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CANTARES ALENTEJANOS
“Eu
sou devedor à terra; a terra me está devendo; a terra paga-me em vida;
eu pago à terra morrendo”. Esta
é uma das passagens do canto alentejano que revela a forma de sentir do
povo da planície. Um povo que, apesar de muitas vezes ser forçado a sair
para procurar melhores condições de vida, continua a preservar, seu amor
pela terra. Para o fazer sentir e demonstrar, o povo A origem deste tipo de poesia cantada em
que a voz é a único instrumento, ainda não está esclarecida. Há quem a
atribua á escola de canto popular que os frades da Serra de Ossa
fundaram, primeiro em Évora e depois em Serpa: e há simplesmente, quem
considere que a origem dos cantos alentejanos está no tempo em que se
faziam tarefas agrícolas na grande planície. A isto não é alheia a
própria configuração da paisagem: aglomerados pequenos e distâncias
grandes, ao longe das quais se ia cantando, até chegar ao campo de
trabalho. Por outro lado, durante o resto do tempo, o homem alentejano
vivia em comunidade. Uma ida até a taberna era sempre uma boa ocasião
para conviver com os amigos. Isto passava-se antigamente e é o que
acontece ainda hoje. A mulher, por outro lado, permanece em casa a fazer
as lides domésticas. Este e um dos motivos que se aponta para que seja
só o homem a dar a cara nos corais alentejanos. E não se pense que é só
cantar e pronto. Se há coisa que um alentejano preza é o saber cantar
como manda a regra. Para isso são sempre necessários três elementos: a
primeira voz, que inicia o canto e a que se dá o nome de “ponto": a
segunda voz, a que As modas alentejanas podem ser classificadas em dois grupos; as "modas de baile” que são cantadas na altura dos Santos Populares e Carnaval, e ao som das quais se chegaram a fazer bailes: e as 'modas terra de barro', assim denominadas porque tal como a terra de barro é difícil de trabalhar, também estas modas são difíceis de cantar. São as modas de que os grupos se orgulham e que fazem questão de cantar quando está alguém de outro grupo por perto. É que existe uma grande rivalidade entre os vários grupos de cantares. Mas dizem os envolvidos na matéria que é uma rivalidade sã, que passa pelo orgulho de cantar melhor do que os outros e que provavelmente, até tem sido um dos motivos pelo qual o canto alentejano ainda continua bem vivo. Como principais cantos alentejanos surgem-nos 'Ao romper da bela aurora’, ‘A ribeira do sol posto’ e o ‘Passarinho’, este último interpretado de formas diferentes por diversos grupos, o primeiro é um hino à vida e às suas coisas simples como o ciclo do pastor que se levanta quando o sol. O segundo está relacionado como mistério das coisas... e o cantar da cigarra durante o verão que vai marcando o compasso do trabalhar da charrua e todo o ciclo próprio das coisas que são filtradas pela sensibilidade do alentejano. Nesta grande planície feita de distâncias e mistério, de beleza e contrariedades, de partidas e saudade o rio Guadiana marca uma fronteira entre dois mundos do canto: na margem esquerda canta-se de forma mais lenta e compassada e a rainha do canto e a localidade de Cuba; na margem direita canta-se deforma mais andada e ritmada e é Serpa a senhora das melodias. O traje típico do alentejano quando
canta e o fato domingueiro; a camisa, o colete e as calças finas.
Existe, no entanto, uma excepção, que é o caso do grupo etnográfico
"ceifeiros de cuba’. Estes, tal como o próprio nome indica, vestem o
fato de trabalho; calças, colete e camisa de fazenda grossa, pois como
diz a expressão popular 'o que guarda o frio, guarda o calor.' Usam também os ceifões para proteger as pernas, os alforges, a foice, os
canudos de cara para proteger os dedos durante a ceifa e a corna das
azeitonas. Esta é a farda típica de trabalho que eles vestem sempre que
a actuação é programada. No entanto sempre que o número de homens que se
juntam na tab Hoje já não e fácil angariar jovens para se unirem uns aos outros e cantarem as modas típicas da sua terra. Grande parte deles vão fugindo para o litoral ou para o estrangeiro em busca de melhores dias e os que ficam preferem dedicar o seu tempo livre à música popular portuguesa, acompanhada de cavaquinho ou bandolim. Enquanto isso, os mais velhos vão tentando preservar o património que herdaram e que guardam com muito orgulho. E assim vão cantando até que a voz lhes doa. |
CHULA E MALHÃO
Chula amarantina;
chula de santa Cruz; barqueiros e "paus”. Estas são
apenas algumas das versões da ‘chula' que percorre as margens do
Douro e se estende até ao Minho. Atrai
Pedro Homem de Mello caracterizou-a como uma "dança complicada, rica e subtil onde certos saltos evocavam modas escandinavas." Houve tempos em que os trabalhos agrícolas, como as mondas, as desfolhadas ou as espadeladas do linho eram pretexto suficiente para puxar da concertina, da viola ou da rabeca e dar ritmo aos movimentos. Eram serões animados pelas modas criadas à medida do carácter do minhoto, para quem "dança" é impreterivelmente sinónimo de alegria. As próprias letras das canções fazem a isso referência e, se alguém tiver duvidas, basta ouvir com atenção um excerto da 'chula d' Areosa": 'hei-de cantar hei-de rir; hei-de ser muito alegre; hei-de mandar a tristeza; pró diabo que a leve... As romarias eram outro bom pretexto para se dançar as 'chulas". Eram criadas com letras e coreografias um pouco diferentes consoante a localidade em que surgia. Mas cada freguesia defendia a sua, com brio e vaidade. É igualmente uma dança de roda, mas o porquê do nome não está esclarecido. Hoje os serões minhotos são preenchidos de forma diferente. Os processos mecanizaram-se e a intervenção do homem nas tarefas agrícolas foi minimizada. Agora, quem dança as 'chulas' são os grupos folclóricos que foram surgindo ao longo dos anos, trajados á moda do Minho e ornamentados com as relíquias em ouro. As chulas são as únicas rainhas das danças do norte. Descemos ao Baixo Minho e entramos na reino dos "malhões', o ambiente é de folia e animação. É conhecido como "malhão velho'. 'malhão minhoto' ou simplesmente "malhão". A dança começa quando os pares dispostos em círculo, se voltam para dentro dando a direita à moca. Depois de irem dançando em 'passo de chula", e de o mandador dar ordem, eis que se inicia o "voltear". É executado em cinco tempos, durante os quais os pares volteiam sobre si em passos mais largos. No final deste movimento surge o característico "pulo" a 'pé-coxinho". Para alguns interessados nestas matérias, esta será uma dança campestre que terá surgido no distrito do Porto. O nome de "malhão" terá tido origem em algum instrumento agrícola e nos tempos em que era dançado nas aldeias, tinha uma coreografia diferente, mulheres e homens dispunham-se em fila, frente a frente. Iam-se aproximando e afastando sucessivamente e batiam o ritmo com os pés. O fim da dança acontecia quando todos fechavam a roda e pulavam. Curioso é, no entanto, o testemunho dos mesmos autores para os quais a dança tomou um rumo e uma conotação bastante diferente depois de ter passado do campo para a cidade, pois dizem que a dança foi “adoptada nas orgias e bacanais do povo rude". Porém, esse significado foi ultrapassado e hoje o "malhão" é dançado sem preconceitos. |
CORRIDINHO No Algarve o ritmo é veloz e
não há calor que faça abrandar, os fãs do corridinho. Vai de roda, vai de roda, vai de roda sem parar... É dada a ordem pelo
mandador e imediatamente os pares obedecem, como se o ritmo lhes
corresse nas veias. É assim de uma ponta à outra do Algarve, onde
quem dança também ri. Das serras ao
litoral, toda a gente dança o corridinho. É assim desde há muitos a O que importa é que o corridinho continua bem vivo na 'guelra’ dos algarvios. Sete passos para a frente três passos para a direita e três passos para a esquerda, volta e segue a dança. Esta é a marcação básica do corridinho. É um baile mandado e uma dança de roda que começou por esta marcação simples e que depois foi evoluindo para outras mais complexas. Evolução que se começou a verificar a partir da chegada quase triunfal do acordeão. Os seus tocadores surgiram como pessoas cheias de malabarismos e habilidades, dando um novo impulso á dança algarvia. Surgiram então as florestrias (espécie de floreados) e o corridinho foi ainda mais galvanizado. Dessas florestrias fazem parte as 'escovinhas’ que é quando os pares giram sobre si mesmos em "pião” ou em "moinho" (conseguido pela saia da mulher quando roda). O nome de "escovinhas” supõe-se que tenha sido dado pelo facto do som emitido pelos pés em contacto como chão, se assemelhar a uma escova a escovar um fato. Os “sapateados" as "carrerinhas" ou a perna do homem por cima da anca da mulher são mais algumas "florestrias" que os dançarinos algarvios mostram cheios de vida e energia. |
FANDANGO
Cabeça
erguida, corpo firme e pernas leves, estes são os requisitos necessários
para ser um bom fandangueiro. De polegares nas covas dos braços “fogoso
e impaciente como um puro lusitano. O autêntico fandango aparece-nos na
pessoa do campino, que só se di Ao percorrermos a província ribatejana, acabamos por descobrir algumas diferenças na forma de dançar e de trajar. Ao norte, na margem direita do Rio Tejo, ficam os 'bairros', onde os campinos usam trajes mais escuros e as danças são mais lentas; ao sul adivinham-se já os montados de charneca, mas é na grande lezíria que o campino veste roupas mais garridas e dança de forma mais agitada. Aí vamos encontrá-los com o fato de trabalho cinzento e a faixa e o barrete encarnados. Na zona da charneca, o ritmo da dança assemelha-se muito ao da lezíria. É que os campinos dessa região, (que se aproxima bastante do Alentejo e que muitas vezes e já confundida com ele), fazem questão de demonstrar que são ribatejanos. O traje típico da mulher da lezíria que anda nos arrozais é composto por duas saias e meias sem pés, às quais se dá o nome de canos ou sacanitos. A mulher do bairro veste trajes mais escuros em tons de castanho e preto, tal como o campino daquela região, que ao contrário do da lezíria, usa cinta e barrete preto.
Ao contrário do que é do conhecimento comum, o fandango não é uma
dança exclusiva do Ribatejo. Pelo menos é assim que reza a historia
desta dança que já vem de longe. Já no século XVI, Gil Vicente usou o
termo “esfandangado”, no entanto, nada comprova que a sua
utilização tivesse algo a ver como que se chama hoje “fandango”. Mas
foi só em setecentos que as influências vindas de Espanha foram um marco
importante no destino do fandango. Várias foram e as fases que estiveram
nos bastidores da dança, ao longo destes séculos. As mitologias que se
foram edificando fazem-nos crer que o fandango é uma dança exclusiva do
Ribatejo, mas a verdade é que a história desmente esta ideia. Tal como
já referimos, o fandango chegou até Portugal no século XVIII, vindo dos
palcos do teatro espanhol. Em Portugal, o seu ritmo contagiante invadiu
o país, primeiro no círculo da aristocracia como dança de salão, depois
nas tabernas, em ambie Dançava-se no Minho, no Douro Litoral na Beira Interior e na Beira Litoral, onde ainda no inicio do século se tocavam fandangos nos arraiais. E no Minho ainda há quem chame "afandangados” a alguns viras. Mas foi no Ribatejo que eles ficaram conhecidos como tal. Consta que no século VXIII, o fandango era dançado por homem e mulher em pé de igualdade. No entanto o facto de ele ter sido adotado pelos convivas das tabernas, que o dançavam sobre as mesas ao som do harmónio e ao toque dos ‘copos', e interpretado como um dos motivos que conduziu à masculinizarão da dança. Hoje, o fandango é uma dança exclusiva de homens que deixou de ser apanágio das tabernas e bailes da aldeia para se transformar numa manifestação de espectáculo folclórico. |
PAULITEIROS DE MIRANDA
No
planalto mirandês existem grupos de oito homens que vestem saias e tem
paus. Dispensam apresentações. Já todos os conhecem: são os Pauliteiros
de Miranda. Com os saiotes brancos, lenços, os
Mas o mais óbvio é perguntarmo-nos: de onde vem esta tradição? A origem
não está definida. Contudo, há quem defenda que se trata de uma dança
guerreira, que descende de tempos Greco-romanos e que os homens foram
adaptando e transformando á sua maneira. Segundo este ponto de vista, os
paus mais não são do que a substituição do escudo e da espada. É por
isso que o pau da mão esquerda defende e o da mão direita ataca. Quanto
ao traje, o lenço mais não é do que um adorno, bastante garrido, que
varia consoante o homem que o usa. E no que diz respeito à saia, ainda
hoje, quando chega o momento da “dança da velha", hábito típico do dia 1
de Janeiro em Vila Chã, os homens se vestem de mulheres e vão para a
rua. Pegam na "dianteira”, que é uma faixa em linho que envolve a cama e
colocam-na à sua volta. A dança de paus mais típica e tradicional é a “capanitas
de Toledo". É uma canção que não nega a fort
Apesar de à primeira vista aquelas danças de homens não parecerem seguir
qualquer princípio rígido senão o do bater dos paus, há regras que devem
ser seguidas. Cada um deles tem no grupo uma função muito própria e
única. Em cada dança é obrigatório existirem oito homens, entre eles
dois guias direitos e dois guias esquerdos, dois peões direitos e dois
peões esquerdos. Os guias movem-se nas pontas e dançam frente-a-f Nessa altura todas as aldeias tinham pauliteiros. Nem todos os homens dançavam, mas escolhiam-se os mais ágeis e com “melhores” pés. Os mais novos não têm problemas em aderir. No inicio, os paus assustam um pouco, mas bastam oito dias de treinos diários e o 'milagre’ acontece. Não sem antes levar umas boas 'pautadas" nos dedos, claro está!... |
SÃO MACAIO
São
Macaio é uma canção dançada nos Açores. Foi sobretudo na ilha Terceira
que a sua tradição se generalizou. Tudo leva a crer que o seu nome
original, seja São Macário e que o nome com que ficou conhecido seja já
uma degeneração do primeiro. Acredita-se O São Macaio é uma dança de roda, um pouco semelhante à ’chula’ do Minho originalmente, esta era uma moda que se dançava nos 'balhos’ ou bailes das aldeias, nos quais as pessoas não necessitavam de qualquer traje típico para evidenciar as suas capacidades de bailadores. Um baile era geralmente dividido em várias partes, consoante as modas: começava-se com a charanga que é uma moda com influências africanas; depois vinha o São Miguel ou virar do baile' ou ´ ’os mares’ como também é conhecida; de seguida o São Macaio, depois a “tirana" e por fim a 'chamarrita’. Esta última é dançada em todas as ilhas. É possível encontrarmos algumas semelhanças entre algumas ilhas, no que toca ás danças. É o que acontece entre a Terceira, a Graciosa e São Jorge. Entre São Miguel e Santa Maria também é possível encontrar algumas semelhanças bem como entre o Faial e o Pico. A Terceira é conhecida como a ilha onde se toca e canta melhor. Já as coreografias das danças são bastante simples pois o seu mérito vai sobretudo para o canto. Antigamente mais do que hoje, bastava alguém pegar na viola da terra e logo, se faziam ouvir as vozes. E foi neste ambiente que o São Macaio foi levado à cena. É uma moda lenta e longa e por isso, é hoje menos dançada. É que o São Macaio que antigamente era dançado por qualquer um nos "balhos" da ilha passou a ser encenado pelos membros dos agrupamentos folclóricos. Hoje já não se dança só a tradição, dança-se também pelo espectáculo. E o facto do São Macaio ser uma dança um pouco monótona, não ajuda muito. A moda principia com uma roda em que os pares estão voltados uns para os outros, depois a mulher vão avançando e o homem recuando. Fazem duas rodas concêntricas e vão-se movimentando até voltar a posição inicial. A roda é sempre a forma principal da dança que é comandada pelo mandador. Antigamente, nos ‘balhos’ o mandador era o tocador da viola. Agora, nos agrupamentos folclóricos há sempre alguém com essa função. Uma vez que não existe um traje único associado à dança, é frequente vermos os agrupamentos folclóricos envergarem os trajes típicos das ilhas. É por exemplo o do pastor com a camisola de linho, o camisolão grande, as calças de fazenda, à base de lã, pretas ou acastanhadas, um barrete de borla e umas alpercatas ou sapatas de cabedal. A mulher usa o traje igualmente feito no tear de lã, com as cores típicas: o vermelho, o rosa, o castanho e o roxo. |
Vira Do Minho
É a dança rainha do Alto Minho. As arrecadas e os fatos minhotos ajudam
a completar o cenário.
Caminhamos pela costa em direcção ao sul e o vira não desiste. A par do vira enérgico do Minho, vamos encontrar o vira de seis em terras de pescadores. |
Vira Da Nazaré
"Não vás ao mar
toino". Este é um dos versos mais populares do vira da Nazaré. Como não
poderia deixar de ser, em terra de pescadores, o mar é quem mais ordena.
Põe e dispõe da
Antigamente, mal vinham da faina do mar, os pescadores pegavam no harmónio, num cântaro e num abano de assar a sardinha, numa garrafa e num garfo, que colocavam dentro para dar ritmo, nuns ferrinhos, nas velhas violas, nas flautas e nas pinhas que passavam uma na outra e partiam para a folia, para as festas da Senhora da Luz, de S. Brás e de Santo Amaro, nos arredores da Nazaré. É que apesar dos perigos a que estão constantemente sujeitas, as gentes do mar têm uma alegria esfuziante que deixam transparecer nas danças ritmadas. Cada peça de roupa com que encenam o vira tem um significado próprio. Os homens vestem a camisa de xadrez e as ceroulas de trabalho, colocam o barrete na cabeça, que serve para levar o tabaco, o dinheiro e também para proteger do sol e do frio e rematam com a faixa na cintara, que na faina tem a função de corda, caso caia alguém ao mar.
A nazarena pode também utilizar nas danças o seu fato domingueiro. E nesse caso a diferença nota-se essencialmente pela saia de cima que é plissada. Existe ainda um outro elemento que está presente no traje nazareno e que intervém na dança do vira. Trata-se do 'foquim’ que é feito artesanalmente pelo pescador e que tem uma dupla função: serve para levar o farnel para o mar e, uma vez que não vai ao fundo, em caso de acidente, serve para avisar que houve naufrágio. |
Informação recolhida e adaptada a partir da internet e outros documentos
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Manel Grilo